Guerreiras - Texto teatral e Trilha sonora original
“Uma dramaturgia que pode ser apreciada de diversas maneiras. Uma sucessão de batalhas que sangra, engravida, se embeleza com ‘touca’, se em beleza para si, para o outro e para a outra, que é violada(...)”. Estas são algumas das palavras do dramaturgo Newton Moreno (Cia. Os fofos Encenam-SP), na apresentação que faz da obra "Guerreiras – Texto teatral e Trilha sonora original". O livro-cd que teve patrocínio do Funcultura-PE (2009) e prefácio do também dramaturgo pernambucano Luiz Felipe Botelho, traz dramaturgia e trilha sonora originais do espetáculo "Guerreiras", produzido pela Unaluna - Pesquisa e Criação em Arte e apresentado em diferentes temporadas em Recife, Goiana e São Paulo, entre 2009 e 2010. O texto-encenação é um dos desdobramentos da pesquisa de Doutorado de Lyra na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp - SP) acerca da comunidade de Tejucupapo. “A dramaturgia foi desenvolvida por intermédio da reconstrução de textos, citações e narrativas das mulheres de Tejucupapo, colhidos a partir da residência da equipe de pesquisa cênica na comunidade. A textualidade destas mulheres entrou em ressonância com as vivências das atrizes-criadoras de Guerreiras, estimulando uma rede de memórias pessoais e significações”, relembra Luciana Lyra. Segundo o colega Newton Moreno, a iniciativa é “um terreno fértil para as atuais pesquisas do teatro brasileiro. Uma dramaturgia que resgata um pouco da rubrica de encenação. Um diário de bordo sistematizado de como se teceu esta rede à margem do manguezal”, declarou o dramaturgo. A trilha sonora criada especialmente pela musicista Alessandra Leão para o espetáculo foi incluída no projeto porque, de acordo com Luciana, em Guerreiras “o diálogo estreito com a música e a musicalidade, quebram convenções cênicas de cunho realista, recuando os limites do ‘representável’ e galgando uma maior liberdade e abstração. Notória admiradora da cultura do interior pernambucano, Alessandra Leão foi à Tejucupapo – na fase de residência cênica de Guerreiras, em 2009. A experiência levou as vozes rasgadas dos coco, cavalo marinho e ciranda, típicos da Mata Norte para a trilha sonora. Mas de acordo a musicista deixou-se “espaço também para alguns novos sons que circulam pela região, como o brega”. Um exemplo é Cheira que é de pêra, uma das faixas do álbum. As letras criadas por Alessandra – e cantadas algumas pelas próprias atrizes em cena - transformam poesias em palavras de ordem, como na faixa Senão: “Se não tivesse saído/Como teria chegado/Se não tivesse parado/Como teria caído”. O espetáculo - Triplamente agraciado pelo Funcultura -2008 e os Prêmios Myriam Muniz e Artes Cênicas na Rua, da Funarte, em 2009, "Guerreiras" foi concebido e encenado como espetáculo em espaços abertos, em uma atmosfera hipernaturalista, que remontava às brincadeiras populares, o terreiro ou mesmo o campo de batalha de Tejucupapo, nos idos de 1600. Na primeira temporada, ainda em 2009, a montagem foi exibida no campus da Usp, em São Paulo, no Campus da UFPE e Sítio da Trindade, em Recife, e no Campo do Trincheira Futebol Clube, em Tejucupapo. Já em 2010, a turnê batizada de "Guerreiras em circuito de guerra", levou Luciana Lyra, Viviane Madu, Cris Rocha, Kátia Daher e Simone Evaristo a encenarem em endereços marcados por batalhas históricas e focos de ocupação holandesa no Recife, começando pelo Forte do Brum, seguindo para o Forte das Cinco Pontas e novamente ao Sítio da Trindade, onde havia o Forte do Arraial do Bom Jesus.